Conjunto realiza Oficina sobre o trabalho de assistentes sociais com os povos indígenas
Data de publicação: 3 de agosto de 2025
Fotos: Rafael Werkema
Créditos: Rafael Werkema/CFESS
Terminou no último sábado (2 de agosto), na Universidade Federal de Roraima (UFRR), a Oficina de Serviço Social sobre o trabalho de assistentes sociais com os povos indígenas.
A atividade, realizada pelo CFESS e CRESS-RR, contou com a participação de indígenas assistentes sociais e representantes das gestões e da base dos CRESS de todo o país, bem como integrantes da Articulação Brasileira Serviço Social e Povos Indígenas, do Grupo de Pesquisa Wayrakuna e da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).
A oficina começou na sexta (1º de agosto), com uma acolhida realizada por indígenas assistentes sociais de diferentes povos, que construíram um mural símbolos representando o serviço social e a luta indígena por todo o Brasil.
Em seguida, na mesa de abertura, a presidenta do CRESS-RR, Laurinete Silva, ressaltou a relevância de o estado de Roraima receber pela primeira vez uma atividade nacional do Conjunto. “Somos o último regional a ser criado, que está em processo de consolidação, em um estado que também sofre com a exclusão socioterritorial dos povos indígenas e com a emergência nacional dos povos Yanomami”, enfatizou.
A conselheira do CFESS, Mirla Cisne, fez um breve resgate de ações e do debate sobre o Serviço Social e os povos indígenas no Conjunto e ressaltou a natureza da atividade que foi deliberada no 50º Encontro Nacional.
“Temos os primeiros registros desse debate em 2012 e, desde então, o Conjunto tem buscado ampliar e aprofundar a temática. Em 2021, com as comemorações do 15 de maio, a gente intensificou as ações. Nossa intenção com essa oficina é, portanto, pensar sobre o trabalho da nossa categoria junto aos povos indígenas, de como o serviço social pode contribuir para enfrentar violências, viver e compreender as particularidades dessas populações para garantia de direitos”, complementou.
Diálogo sobre povos indígenas
A mesa composta por Elizângela Pankararu (Apoinme) e Raquel Pataxó (Articulação) fez uma análise de conjuntura da questão indígena, considerando especialmente a questão étnica. Eliz Pankararu trouxe dados atualizados apontando que a população indígena ainda sofre com violações de direitos, racismo e exclusão das políticas públicas.
“Com base em dados recentes (como o Censo de 2022), destaca-se a significativa presença indígena em áreas urbanas e fora das terras oficialmente delimitadas, o que exige do Serviço Social um olhar atento e comprometido com a diversidade e com a luta contra o apagamento desses povos”, destacou.
Já Raquel Pataxó alertou para o conservadorismo e preconceitos que ainda reverberam dentro do Serviço Social e como isso atinge diretamente indígenas assistentes sociais e os povos que a categoria atende. “Precisamos de atendimento de profissionais que reconheçam nossa identidade indígena, nossa história”, reforça.
Nesse sentido, Pataxó ressaltou a importância da formação profissional e de como isso pode impactar em futuros atendimentos à população indígena. “Nesse atendimento, estamos separando um tempo para conviver e vivenciar o cotidiano desses povos? Isso deve ser construído diariamente”.
No debate, diferentes falas destacaram a negligência estrutural do Estado no atendimento à população indígena, a ausência de políticas públicas nos locais mais remotos, e a importância do reconhecimento dos territórios indígenas, inclusive em contextos urbanos, onde há invisibilização e apagamento.
Nessa ideia, foi ressaltada a necessidade de se desconstruir preconceitos, como de que toda pessoa indígena deve estar “aldeada” ou “confinada”, tendo em vista que a concepção de “território” indígena é muito mais ampla.
Por isso, ficou nítido o papel ético de cada assistente social frente à reprodução cotidiana de violências institucionais, alertando para que não haja distanciamento e a desresponsabilização de profissionais indígenas e não indígenas.
Trabalhos em Grupo e síntese para novas ações do Conjunto
Na manhã do dia 2 de agosto, foram separados quatro grupos de trabalho para pensar questões que envolvem a atuação da categoria com povos indígenas: na saúde e educação (grupo 1); previdência social e assistência social (grupo 2); na relação com migrações e refúgios no contexto urbano (grupo 3); a partir das questões de racismo, identidade, terra e território (grupo 4).
Assim, situações concretas de atendimento, bem como a estrutura dos serviços e as próprias legislações, perpassaram os diálogos dos grupos. Que tipo de violações de direitos e resistências indígenas é possível identificar? Quais são as condições de acesso dos povos indígenas ao conjunto de políticas sociais ofertadas nos municípios? Quais as principais barreiras para o acesso dos povos indígenas aos seus direitos? Como efetivar o acesso a direitos?
Uma das coisas que ficou nítida é que o Serviço Social possui arcabouço teórico-metodológico e compromisso ético-político para o trabalho profissional junto aos povos indígenas. Entretanto, é necessário construir instrumentos de trabalho que acolham as especificidades e experiências no atendimento aos povos indígenas.
A síntese dos trabalhos dos grupos contribuirá para novas ações do CFESS no sentido de orientar a categoria sobre o trabalho de assistentes sociais com os povos indígenas.
Avaliação
Danila Guimarães, assistente social de base que atua no apoio técnico em atenção à saúde no Distrito Sanitário Especial Indígena Bahia, avaliou positivamente a oficina. “Uma oportunidade de fazermos uma interlocução sobre o nosso fazer profissional nos territórios em que atuamos, de ouvir diferentes experiências de outros estados, de pensar essa discussão de uma forma integrada, reconhecendo a potencialidade da profissão junto a esses povos”.
Dayana Bednarczuk, assistente social indigenista de Roraima, destacou que para além de um espaço de troca, foi um espaço de construção. “Os elementos que discutimos na Oficina vão subsidiar uma construção norteadora sobre formas de trabalho com os povos indígenas, tirando profissionais (indígenas e não indígenas) de um lugar de solidão ou fragmentação sobre essa atuação profissional”, afirmou.
Elizângela Pankararu, indígena assistente social e integrante da Articulação Brasileira Serviço Social e Povos Indígenas, afirmou que “fazer esse debate significa aprimorar a oferta desses serviços e qualificar nosso trabalho nos espaços sócio-ocupacionais e nas políticas públicas onde atuamos, além de defendermos a luta contra o racismo contra os povos indígenas e defendermos o direito à terra e ao território, e aos povos que vivem em situação de migração ou refúgio”.
Para fechar, a conselheira do CFESS Iara Fraga enfatizou: “a Oficina materializa um princípio fundamental para nossa categoria, que é a democracia. Saímos com a tarefa de continuar impulsionando e incidindo no trabalho de assistentes sociais com os povos indígenas e de fortalecer a garantia da justiça social para os povos indígenas do nosso país!”.
Ao final, participantes bradaram o grito “demarcação já”, reforçando uma das principais lutas dos povos indígenas.