37º ENCONTRO NACIONAL CFESS/CRESS
Data de publicação: 10 de outubro de 2008
"A HISTÓRIA É UM CARRO ALEGRE, CHEIO DE UM POVO CONTENTE"
O CARRO DA HISTÓRIA PASSOU PELO 37º ENCONTRO NACIONAL CFESS/CRESS. MARCOU DECISÕES POR ANOS ESPERADAS. PROVOCOU ALEGRIAS E TRISTEZAS, PRÓPRIAS DE PROCESSOS DEMOCRÁTICOS. E AGORA CONDUZ POR NOVOS CAMINHOS OS MAIS DE 80 MIL ASSISTENTES SOCIAIS ESPALHADOS PELO BRASIL.
A frase do título, referência à música de Pablo Milanés e Chico Buarque, foi lembrada pela professora doutora da UERJ, Elaine Behring, falando contra determinismos conservadores do Capital. Ainda nem haviam começado as deliberações, mas nenhuma, entre as mais de 240 pessoas ali presentes, duvidava de que se marcaria a História naqueles dias.
E assim foi. Crachás amarelos se levantaram contra . O debate democrático foi por vezes tenso, as escolhas, difíceis. "Mas é justamente nele que está o fôlego coletivo para atravessar tempos ruins."
Um dos momentos mais esperados e emocionantes do Encontro foi a aprovação da resolução que a partir de agora irá regulamentar a supervisão direta de estágio. Após um ano de debates, envolvendo os CRESS, a ABEPSS e a ENESSO, a proposta de minuta apresentada pelo CFESS foi, finalmente, aprovada e será um importante instrumento de defesa de condições de trabalho para assistentes sociais supervisores, o que contribuirá para a melhoria da qualidade na formação e exercícios profissionais.
Projeto Ético-Político avaliado
Da sua mesa, Elaine olhou as pessoas na platéia. Disse como era boa a sensação de ver o público dali. Melhor ainda porque não se tratava de um público simplesmente, mas de uma grande direção política. "Sim, temos visões diferenciadas da profissão, mas estamos reiterando os rumos desse projeto societário. Forjamos ao longo desses 30 anos direções políticas seguras de várias gerações de militantes e lutadores sociais, parte deles aqui presentes hoje".
Eram 170 delegados com direito a voz e voto em todas as decisões. A maior participação na história dos Encontros Nacionais. E todos com uma postura bem diferente daquela adotada por parte da esquerda que, "tendo participado das primeiras lutas, assumiu por fim o governo federal e se afastou do projeto original". Esse seria um dos elementos, apontados por Elaine, que tencionam a hegemonia do projeto ético-político do serviço social. Entre os outros estariam
Números e indignação
Em outro momento, o economista e professor doutor da UFRJ Reinaldo Gonçalves mostraria como, ao contrário do que divulgam autoridades do governo, o país tem aumentado a concentração da renda e da riqueza, enquanto bancos como o Itaú, o Bradesco e o Unibanco ganham cada vez mais com os altos juros.
Ivanete Boschetti, presidente do CFESS e professora doutora da UnB, dividiu a mesa com Reinaldo e trouxe o exemplo concreto dessa realidade. Naquela manhã, mostrava-se indignada com duas notícias que vinham dos jornais: a primeira dizia que o Banco Central entregava R$ 13 bilhões do Tesouro Nacional ("o equivalente a todo o orçamento do Fundo Nacional de Assistência") ao mercado financeiro. A outra notícia falava de meninas e meninos entre 9 e 11 anos que vendiam seu corpo a R$ 3 na rodoviária de Brasília, a poucos quilômetros dali.
"É revoltante ver estampada nos jornais a evidência de que o dinheiro que falta nas políticas sociais, sobra na ajuda aos banqueiros. No Brasil, privatizamos riqueza e socializamos perdas, enfatizou. Precisamos de uma política econômica que distribua a riqueza socialmente produzida." Por enquanto os números continuam refletindo a realidade desigual que liga o Banco Central às meninas da rodoviária de Brasília: os 10% mais ricos da população vivem com 44% da renda do trabalho, enquanto os 10% mais pobres buscam artifícios trágicos para sobreviver com 1% da renda do trabalho.
"Hoje é o dia antes da queda do nosso inimigo!"
Por causa dessa realidade, não cabem, no âmbito do debate de assistentes sociais, as falsas dúvidas pós-modernas sobre contra quem se deve lutar. O inimigo é conhecido e todos sabem onde encontrá-lo.
Momentos antes de começarem as grandes votações dos grupos temáticos, Sâmya Rodrigues, professora doutora da UERN, negando a crise do projeto ético-político, convidou todos a resistirem. E citou Brecht: "É a preparação de nossos quadros. É o estudo do plano de luta. Hoje é o dia antes da queda de nossos inimigos."
Assistentes sociais são feitos de resistência e também de poesia. Trata-se de uma evidência que este 37° Encontro Nacional deixou perceber. Nos seis Grupos Temáticos (GT) que se reuniram para tomar decisões, as intervenções eram firmes, fundamentadas e apaixonadas. Algumas vezes recheadas de citações.
Logo no primeiro GT, o de , a participação era tão intensa, que as portas tiveram que ficar abertas porque as cadeiras saíam pelos corredores. A cada vez que uma (um) assistente social diferente pedia o microfone, expressava-se uma perspectiva única, que tinha a ver com a peculiaridade do seu trabalho cotidiano e com a cultura do seu lugar. Falava-se com conhecimento de causa e por isso a defesa era feita com tamanha vontade.
E havia espaço para muitas intervenções. No GT de , as discussões atravessaram a noite. Também foram debatidos os temas de .
Até que, na Plenária Final de Deliberações, um novo conjunto de orientações para o assistente social, construído democraticamente, estava pronto (Veja aqui todas as deliberações). De repente fez sentido, com os documentos nas mãos, mais uma típica citação de assistente social que vinha ecoando nos debates: "Ó, vida futura! Nós te criaremos!" (Carlos Drummond de Andrade).