Emoção marca as palestras do segundo dia de congresso
Data de publicação: 1 de agosto de 2010
Mesa Redonda na manhã de domingo, 1º/8 (Foto: Bruno Costa e Silva)
O segundo dia do XIII CBAS empolgou os/as participantes presentes no Centro de Convenções em Brasília (DF) na manhã deste domingo, 1º de agosto. A mesa redonda do dia foi pautada pelo tema Sujeitos Políticos Coletivos na Sociedade Brasileira: resistência ao capitalismo, trazendo diversas lutas sociais, como as dos movimentos de trabalhadores sem teto, sem terra e feminista.
A intervenção inicial foi da professora doutora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Virginia Fontes, que abriu os trabalhos fazendo uma reflexão sobre a crise do capital, ressaltando a importância da luta dos/as trabalhadores/as.
"As crises tendem a ser cada vez mais intensas e internacionalizadas, porém o capital não morre na crise, ele se rearranja e só será superado quando a massa trabalhadora disser basta!", afirmou a professora. Segundo ela, o capital, para existir, precisa liberar as massas das condições de existência, tornando-as disponível para o mercado, o que gera a desigualdade social a partir de expropriações. "São, por exemplo, as expropriações do povo do campo, que se desloca para a cidade em busca de melhores condições. O capital barra tudo aquilo que pode freá-lo", explica.
Virginia Fontes encerrou sua palestra destacando que há uma certa melhoria de vida no Brasil, porém por meio da chamada "Política de gotejamento", assistencialista. "Em nosso pais, houve uma certa redução da pobreza, mas com aumento da desigualdade, uma vez que o Estado atende às reivindicações mais imediatas de uma categoria, de modo a fazer cessar a mobilização que ali se inicia", completou, conclamando o público a "não deixar de pensar filosofia, para que não percam os meios de se lutar contra a exploração capitalista".
Em seguida, deu continuidade à mesa a Coordenadora do Movimento dos Trabalhadores sem Teto de São Paulo (MTST), Helena Silvestre. Em uma palestra carregada de emoção, Silvestre apontou ações necessárias para a conquista efetiva dos direitos sociais de uma forma justa e igualitária. "Vivemos a precarização do trabalho e o desemprego, o que distancia milhões de famílias do seu direito à moradia. Para sobrevivermos, é preciso resistir e afirmar os interesses da classe trabalhadora na luta de classes, em uma perspectiva de ruptura com o capitalismo e a construção de uma nova ordem totalmente distinta", enfatizou. A coordenadora do MTST falou também da barbárie que a sociedade vive hoje. "Recentemente a mídia transmitiu ao vivo o assassinato de um negro, filho da classe trabalhadora, acusado de cometer um assalto. Ninguém se comoveu. O capital provoca a perda do sentido do valor humano".
Aplaudida de pé pelo público, a Coordenadora findou sua participação, deixando clara a urgência de se pensar no futuro, para que a sociedade possibilite a todos exercer o maximo de sua potencia humana com plenos direitos. "A aliança da classe trabalhadora é a solução para o enfrentamento do futuro, pois só em conjunto teremos sucesso e nos veremos como um sujeito político coletivo. Podemos e conseguiremos", exclamou.
Helena Silvestre durante a intervenção (Foto: Diogo Adjuto)
Prosseguindo às exposições do dia, a assistente social e integrante do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia de Pernambuco, Verônica Ferreira, levou para a mesa o debate sobre as lutas do movimento feminista no contexto de exploração do capital e da sociedade patriarcal. "Em uma categoria como a nossa, hegemonicamente feminina, é obrigatório abordarmos este tema, mas na perspectiva de emancipação e liberdade das mulheres", explicou.
Verônica falou da história, das lutas e dos desafios atuais do movimento feminista e apontou as violações cotidianas que as mulheres sofrem, dentro e fora de casa. "Segundo o IBGE, cerca de 70% dos/as trabalhadores/as informais são mulheres. Ou seja, somos desvalorizadas nesta sociedade conservadora e patriarcal. Somos vítimas constantes de violência sexual e doméstica, já que uma a cada três mulheres já disse ter sofrido algum tipo de violência. Não temos inclusive a autonomia sobre nosso próprio corpo e nossa sexualidade". Ela ainda defendeu o direito de as mulheres decidirem sobre a questão da maternidade. "Não lutamos para que a maternidade seja impedida, mas sim para que ela não nos seja imposta", afirmou. Neste sentido, ela ainda defendeu a descriminalização e a legalização do aborto, criticando a postura de parte do Congresso que, por meio de uma base parlamentar de fundamentalistas religiosos, impede que as mulheres tenham o direito de decidir.
Ainda segundo a assistente social, o desafio atual do movimento feminista e da categoria é organizar, junto aos movimentos sociais, a luta pela emancipação das mulheres, fazer com que estas se coloquem como sujeitos políticos para se indignar e resistir ao conservadorismo e patriarcado que alimentam o sistema capitalista opressor.
Ao final de sua fala, Verônica fez uma reflexão: "Precisamos recuperar nossa radicalidade. E precisamos manter nossa esperança, pois só tem esperança quem luta e não espera. Então, vamos à luta", conclamou.
Finalizando a mesa redonda do segundo dia, a professora doutora e militante da Escola Nacional Florestan Fernandes Roberta Traspadini fez um breve histórico das lutas da classe trabalhadora brasileira, por meio da atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). "Desde seu primeiro congresso, em 1984, diante da mobilização nacional a favor das eleições diretas (movimento Diretas Já!), o MST vem lutando contra o crescente processo de criminalização dos movimentos sociais. Queremos firmar a noção de que sem a discussão no espaço urbano brasileiro, não será possível fazer a reforma agrária de fato", alegou.
A militante também assinalou o papel da Escola Nacional. "Somos uma instituição fundada desde as bases organizativas do MST, a serviço da classe trabalhadora. Não se trata de uma escola do Movimento Sem-Terra", esclareceu. Por fim, a professora frisou os cinco valores definidos pelo MST que agora balizam suas frentes de atuação. "São os princípios que vão recair na articulação dos camponeses e camponesas na cidade: a solidariedade classista, a beleza, distinta do conceito mercantil homogeneizado, a disciplina revolucionária, o trabalho – no sentido da construção da essência humana e o estudo - do capital e para além do capital", registrou.
Manifestações
Arrebatado pelas intervenções da mesa, o poeta Adeilton Lima, que havia se apresentado no início da manhã, voltou ao palco para registrar sua emoção, declamando o poema Calhordas de Rubem Braga. "Não poderia deixar de me expressar, depois de ouvir tão instigantes explanações nesta manhã", evidenciou.
Também após as palestras, em tom fervoroso, o público entoou a Palavra de Ordem do Ato Público do dia 3, divulgada aos congressistas durante a manhã: "Por essa crise não vou pagar, sou trabalhador e vou lutar!"
E para esquentar ainda mais o caldeirão que o teatro havia se tornado, a professora doutora Elizabete Borgianni subiu ao palco, representando os servidores do Tribunal de Justiça paulista, em greve há quase 100 dias, explicitando as reivindicações por que se mobilizam. "Pelo direito de lutar por salários e condições de trabalho, pelo direito de paralisar atividades quando este direito não for garantido e pelo direito de não ser punido por lutar", enfatizou, convocando todos/as para o Ato Público. "Virão de São Paulo 18 ônibus com servidores que se somarão a essa luta, que já constitui um momento histórico neste CBAS", afirmou.
Sessões Temáticas
As apresentações de trabalhos de estudantes e profissionais participantes do XIII CBAS foram responsáveis pelas discussões no período da tarde. Ao todo, 16 sessões temáticas compuseram as atividades vespertinas no domingo.
A ex-conselheira do CFESS, professora da UFPE e parecerista do CBAS Juliane Peruzzo destacou a importância das sessões. "Este é o espaço de interlocução da categoria com as entidades representativas. Espaço onde se revela o que vem sendo discutido no âmbito profissional. Espaço rico para a socialização das experiências dos/as assistentes sociais e estudantes".
O depoimento da estudante carioca Liliana Barbosa comprova a importância das sessões temáticas no Congresso. "Acompanhei a apresentação de trabalhos sobre Raça, Gênero, Etnia e Orientação sexual. Foi muito importante porque pude conhecer a realidade do exercício profissional do/a assistente social nesses campos", relatou.
O segundo dia de congresso terminou com lançamento de livros e com uma bela apresentação do saxofonista Beto Músico.
Confira as fotos do Congresso!
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