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BOSCHETTI E ARCARY NO FSM 2009


Data de publicação: 1 de fevereiro de 2009


"As pessoas estão cada vez mais ansiosas por esse tipo de discussão", essa foi uma das razões que a presidente do CFESS Ivanete Boschetti encontrou para explicar a sala lotada em que ela e Valério Arcary tinham acabado de falar.

A discussão sobre Direitos, Trabalho e Socialização da Riqueza do Brasil foi organizada pelo CFESS e CRESS-PA, e levou cerca de 150 pessoas a se aglomerarem em uma sala de aula. Mal sobrou espaço para os palestrantes. Do lado de fora, quem não conseguiu uma vaga nas brechas das janelas, fazia esforço para poder ouvir.

Ivanete Boschetti acredita que a situação precária no trabalho, a crescente violação de direitos e a desigualdade estão despertando nas pessoas a necessidade de debater, se organizar e definir estratégias. E o momento parece oportuno para isso.

Trabalhadores estão pagando os custos da crise

Um caso exemplar estava ali perto, às portas do debate. Momentos antes da atividade, durante uma visita à tenda da Revolução Cubana, conselheiras do CFESS foram tomadas de surpresa pela entrada de um grupo de indígenas que, desesperados, pediam ajuda para o povo do Vale do Javari. Sua população está sendo dizimada por surtos de hepatite e outras doenças. A FUNASA não consegue resolver o problema.

Sob impacto da indignação, Ivanete lembrou que esses índios poderiam ser salvos se R$ 100 bilhões de reais não fossem retirados do orçamento da seguridade social nos últimos anos, para pagar os juros da dívida pública. "Esse valor poderia melhorar o atendimento da saúde. Mas 40% da riqueza produzida pelos trabalhadores não ficam no país para promover os direitos sociais. E 56% dessa mesma riqueza ficam concentrados nas classes mais ricas."

O trabalho, portanto, não vem servindo como fator de socialização da riqueza, mas para concentração do capital. É um dos limites impostos pelo capitalismo. Está aí um dos pontos centrais da crítica de Ivanete: a ampliação dos direitos (saúde, educação, renda) não é suficiente para romper com a desigualdade. A conquista desses direitos deve ser a mediação para a transformação radical da sociedade capitalista.

Bolsa Família desmistificada

Os programas de transferência de renda foram desmistificados: "São a resposta para aqueles que não têm acesso ao direito do trabalho. É preciso que tenham acesso à renda, para garantir a ampliação do mercado consumidor. Isso não é socialização da riqueza."

Esses programas apenas estruturam uma desigualdade social. Em alguns países da Europa, o acesso aos direitos foi ampliado, mas a desigualdade continua existindo. "Os ricos continuam ricos, os pobres continuam pobres."

Trabalho com direitos

O trabalho deveria ser uma garantia de bem estar social, sobretudo no âmbito das políticas de seguridade social. Além de direitos como salário, férias e décimo terceiro, o trabalho permite o acesso a direitos indiretos: como previdência e saúde. No Brasil, metade da população economicamente ativa não tem acesso a esse tipo de trabalho. O neoliberalismo acabou com as garantias. Ivanete defende o resgate do trabalho com direitos como novo mecanismo de regulação da economia, além de estratégia de combate à crise.

O Brasil caminha para uma revolução

De forma clara, Valério Arcary disse que a transformação da sociedade pode acontecer por reformas ou por revolução. "O problema é que os ricos e poderosos não querem fazer as concessões, mesmo quando o governo quer fazer as reformas."

Em circunstâncias graves, de ameaça drástica à ordem da sociedade, a classe proprietária cede um pouco, para não perder tudo. Segundo Arcary, isso está acontecendo no Brasil. "A avenida Paulista só aceita que um operário chegue à presidência da república porque percebe a situação de ameaça em que vive. Ele é o homem que permite a governabilidade em condições extraordinárias. Porque no lugar deles viriam revolucionários."

Valério citou casos históricos recentes de países da América Latina que viveram situações revolucionárias. Mas não foram revoluções sociais. "Foram apenas revoluções políticas, porque a classe dominante não foi alterada". É o caso da revolta que levou à queda o então presidente argentino Fernando de la Rúa, em 2001.

Arcary acredita que, em condições normais, as pessoas não têm disposição de lutar. É preciso que sejam empurradas por algum acontecimento extraordinário. Mas, segundo ele, o que a história brasileira sugere é que a crise de longa duração, de estagnação do capitalismo brasileiro, "semeia a preparação de uma situação revolucionária". "São condições de exploração que o povo brasileiro aceitava cem anos atrás, não vai aceitar agora."

Lembrando os milhões de pessoas que vivem em condições intoleráveis, Arcary citou as comunidades carentes de Belém. "Por quanto tempo a população pobre dessa cidade vai tolerar essa privação de direitos?" Baseado nos argumentos que Ivanete apresentara, Valério avisou que o Bolsa Família apenas adia a revolução. Para ele, os últimos seis anos não mudaram a realidade do Brasil.

Sua fala foi encerrada com palavras de motivação: "Vocês, assistentes sociais, que trabalham todos os dias com as comunidades pobres, e que vêem o medo em seus olhos, não se enganem: essas mesmas pessoas que têm medo de lutar, quando empurradas por acontecimentos extraordinários, terão a mesma disposição de luta que vocês podem ver nos rostos dos cartazes pregados em todo o campus dessa universidade. Um dia veremos o mesmo ódio que está no rosto dessas camponesas bolivianas, em cada bairro, em cada favela do Brasil. Acreditem, é esse ódio que vai transformar o mundo."

Vale do Javari

Os índios desesperados que clamaram por saúde na tenda da Revolução Cubana, onde estavam as conselheiras do CFESS, são de etnias que vivem no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas, na fronteira do Brasil com o Peru. Enfrentam índices alarmantes de malária, hepatite e desnutrição. Apesar de ter buscado colaboração das Forças Armadas, no ano passado, a FUNASA – Fundação Nacional de Saúde – não resolveu a situação.

A mortalidade infantil no Vale do Javari, segunda maior reserva do País, foi de 123 para cada mil nascimentos, em 2007. Nem mesmo Moçambique, que enfrenta uma epidemia de Aids atinge esse número.

Representantes das etnias marubo, kunamari e korubo vieram ao Fórum Social Mundial para pedir ajuda ao mundo. Entraram na sala de imprensa com corpos pintados e lanças em riste. Repórteres de diferentes países cercaram o grupo com flashes e microfones. Os líderes falaram em sua língua, em tom de desespero. O discurso foi traduzido para o português e o inglês.

 

Veja abaixo as imagens do dia 31 de janeiro do FSM 2009

 

 

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Bruno Costa e Silva - Assessor de Comunicação/CFESS

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